segunda-feira, setembro 05, 2005

Félix Bermudes e a melhor tradução do "IF"


Foto: Rudyard Kipling

Está muito divulgada na internet uma versão brasileira de Guilherme de Almeida mas vejam se esta não é uma delicia! Foi Félix Bermudes quem traduziu em meados do sec XX. Intelectual, esoterista e filósofo a quem devemos esta obra prima que não fica atrás do original!

Se...

“Se podes conservar o teu bom senso e a calma
No mundo a delirar para quem o louco és tu...
Se podes crer em ti com toda a força de alma
Quando ninguém te crê...Se vais faminto e nu,

Trilhando sem revolta um rumo solitário...
Se à torva intolerância, à negra incompreensão,
Tu podes responder subindo o teu calvário
Com lágrimas de amor e bençãos de perdão...

Se podes dizer bem de quem te calunia...
Se dás ternura em troca aos que te dão rancor
(Mas sem a afectação de um santo que oficia
Nem pretensões de sábio a dar lições de amor)...

Se podes esperar sem fatigar a esperança...
Sonhar, mas conservar-te acima do teu sonho...
Fazer do pensamento um arco de aliança,
Entre o clarão do inferno e a luz do céu risonho...

Se podes encarar com indiferença igual
O triunfo e a derrota, eternos impostores...
Se podes ver o bem oculto em todo o mal
E resignar sorrindo o amor dos teus amores...

Se podes resistir à raiva e à vergonha
De ver envenenar as frases que disseste
E que um velhaco emprega eivadas de peçonha
Com falsas intenções que tu jamais lhes deste...

Se podes ver por terra as obras que fizeste,
Vaiadas por malsins, desorientando o povo,
E sem dizeres palavra, e sem um termo agreste,
Voltares ao princípio a construir de novo...

Se puderes obrigar o coração e os músculos
A renovar um esforço há muito vacilante,
Quando no teu corpo, já afogado em crepúsculos,
Só exista a vontade a comandar avante...

Se vivendo entre o povo és virtuoso e nobre...
Se vivendo entre os reis, conservas a humildade...
Se inimigo ou amigo, o poderoso e o pobre
São iguais para ti à luz da eternidade...

Se quem conta contigo encontra mais que a conta...
Se podes empregar os sessenta segundos
Do minuto que passa em obra de tal monta
Que o minuto se espraie em séculos fecundos...

Então, oh ser sublime, o mundo inteiro é teu!
Já dominaste os reis, o tempo e os espaços!...
Mas, ainda mais além, um novo sol rompeu,
Abrindo o infinito ao rumo dos teus passos.

Pairando numa esfera acima deste plano,
Sem receares jamais que os erros te retomem,
Quando já nada houver em ti que seja humano,
Alegra-te, meu filho, então serás um homem!...”


"If..." - RUDYARD KIPLING




Félix Bermudes, ao referir-se à leucemia que o acometia, diz poucos dias antes de morrer: "Estou vivendo uma experiência maravilhosa, fruto das colheitas enceleiradas na minha jornada de optimismo, respigando ensinamentos espirituais, através de uma longa existência sem vazios, nem desfalecimentos, sem descrenças."
Bermudes, Félix, "A conquista do eterno", Ed. Civilização Brasileira, 1974, pag. IX




2 Opiniões

Anonymous Anónimo said...

este poema é, na minha humilde opin´~ao, um dos mais belos que alguma vez se escreveu. a torrente de sentimentos que de repente nos inundam é comovedora e enleva-nos num ritmo enebriwnte e sufocente. a este poema alio tambem doces imagens do período em que o conheci e em que nele me revia totalmente, com todos as suas imagens enebriantes e conflituosas.
obrigado por me teres lembrado esse tempo.


Ana Santos

terça-feira, 06 setembro, 2005  
Blogger Siddhichandra said...

Olá Ana

Obrigado pelas suas boas palavras! De facto, é um dos meus poemas preferidos. A humanidade (qualidade de ser humano) é realmente muito mais do que experimentamos!

Saudações

terça-feira, 06 setembro, 2005  

Enviar um comentário

<< Home

Click for Lisbon, Portugal Forecast